Via aquela neblina serena e
acinzentada no seu caminho. Aquele cheiro ora queimado ora amargo era um tanto
nostálgico, lembrava suas manhãs comprometidas com livros e humanos (muitos
humanos). Lembrava o bocejo indesejado das horas bem(mal) dormidas de qualquer
dia de semana. Aquilo lhe ardia, mas relembrava uma inocência que fora perdida
muito atrás, por sí, pelos outros. E ela se perguntava se algum dia haveria de
poder novamente confiar em alguma criatura sapiens
sapiens sem se doer ao todo. Aquilo lhe doía, mas lágrimas se trancavam e
insistiam em não lhe vir.
Gostava de sair sem rumo e olhar o
pôr-do-sol por 43 vezes seguidas quando essa melancolia lhe dominava. Mas hoje
nem o pôr-do-sol ela tinha mais. Deveria dormir até o dia seguinte pra
encontrar os suspiros daqueles primeiros raios que insurgem na neblina
amargo-queimadiça.
Por alguns momentos cogitava como
seria não se existir, e a paz que seria uma hibernação de alguns meses. Queria
apenas dormir por longos meses e esquecer toda aquela tormenta que rodeava seus
pensamentos. Ora bons, ora ruins. Uma confusão tenebrosa, que mais se parece
com uma tempestade ventosa em um dia de sol.
O caos vem antes da calmaria,
diziam, mas naquele momento ela confessa que não acreditava mais em calmaria. E
todos os livros tragicômicos da sua vida lhe vinham a cabeça, entretanto
ninguém além dela sabia ou conseguia ler eles por completo. E isso também doía,
pois sempre fora incompreendida e atormentada pelos fantasmas do seu próprio
ser. Estes, que às vezes gostavam de ficar bem próximos. E quando ela voava os
deixava para trás e imergia nas suas próprias cores que eram seu único refúgio que toda aquela humanização.