terça-feira, 8 de setembro de 2015

Nebula


Via aquela neblina serena e acinzentada no seu caminho. Aquele cheiro ora queimado ora amargo era um tanto nostálgico, lembrava suas manhãs comprometidas com livros e humanos (muitos humanos). Lembrava o bocejo indesejado das horas bem(mal) dormidas de qualquer dia de semana. Aquilo lhe ardia, mas relembrava uma inocência que fora perdida muito atrás, por sí, pelos outros. E ela se perguntava se algum dia haveria de poder novamente confiar em alguma criatura sapiens sapiens sem se doer ao todo. Aquilo lhe doía, mas lágrimas se trancavam e insistiam em não lhe vir.
Gostava de sair sem rumo e olhar o pôr-do-sol por 43 vezes seguidas quando essa melancolia lhe dominava. Mas hoje nem o pôr-do-sol ela tinha mais. Deveria dormir até o dia seguinte pra encontrar os suspiros daqueles primeiros raios que insurgem na neblina amargo-queimadiça.
Por alguns momentos cogitava como seria não se existir, e a paz que seria uma hibernação de alguns meses. Queria apenas dormir por longos meses e esquecer toda aquela tormenta que rodeava seus pensamentos. Ora bons, ora ruins. Uma confusão tenebrosa, que mais se parece com uma tempestade ventosa em um dia de sol.
O caos vem antes da calmaria, diziam, mas naquele momento ela confessa que não acreditava mais em calmaria. E todos os livros tragicômicos da sua vida lhe vinham a cabeça, entretanto ninguém além dela sabia ou conseguia ler eles por completo. E isso também doía, pois sempre fora incompreendida e atormentada pelos fantasmas do seu próprio ser. Estes, que às vezes gostavam de ficar bem próximos. E quando ela voava os deixava para trás e imergia nas suas próprias cores que eram seu único refúgio que toda aquela humanização.

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