Tomou um gole de vinho que valia
por três e deu aquele clássico sorriso lateral que formava uma vírgula na sua
bochecha.
Sabia qual seria o resultado de
tudo aquilo apesar dos pesares.
As últimas semanas pareciam
intermináveis e seu único desejo era fechar os olhos para que mais um dia se
passasse e todo aquele pesadelo se dissolvesse como a garrafa de vinho que
assentava em sua frente.
Como aquele líquido se esvaia
rápido! Queria que sua vida se movimentasse daquela forma, mas tudo parecia
correr lentamente e decantar- como as sobras de uva da garrafa amiga.
Pensou em Sargo novamente, e em
toda a amargura que ele lhe trazia naqueles momentos tão perturbadores.
Pensou que hoje não era dia de
Sargo, pois ele não resolveria nada. Hoje desejava algo mais agridoce, algo que
fosse leve, picante e doce, mas sem excesso dos três.
Pensou que pensava demais e talvez
essa fosse a fonte das suas preocupações unilaterais.
Pensou que se não pensasse demais,
nem observasse como sempre fez a vida toda ao montar seus quebra-cabeças do
mundo, não seria ela mesma, mas outro alguém que não ela, e isso não lhe
servia.
Pegou um livro e o engoliu naquela
mesma noite.
Tomou outro gole de vinho e
dormiu.
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