quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Âmbar

Tomou um gole de vinho que valia por três e deu aquele clássico sorriso lateral que formava uma vírgula na sua bochecha.
Sabia qual seria o resultado de tudo aquilo apesar dos pesares.
As últimas semanas pareciam intermináveis e seu único desejo era fechar os olhos para que mais um dia se passasse e todo aquele pesadelo se dissolvesse como a garrafa de vinho que assentava em sua frente.
Como aquele líquido se esvaia rápido! Queria que sua vida se movimentasse daquela forma, mas tudo parecia correr lentamente e decantar- como as sobras de uva da garrafa amiga.
Pensou em Sargo novamente, e em toda a amargura que ele lhe trazia naqueles momentos tão perturbadores.
Pensou que hoje não era dia de Sargo, pois ele não resolveria nada. Hoje desejava algo mais agridoce, algo que fosse leve, picante e doce, mas sem excesso dos três.
Pensou que pensava demais e talvez essa fosse a fonte das suas preocupações unilaterais.
Pensou que se não pensasse demais, nem observasse como sempre fez a vida toda ao montar seus quebra-cabeças do mundo, não seria ela mesma, mas outro alguém que não ela, e isso não lhe servia.
Pegou um livro e o engoliu naquela mesma noite.

Tomou outro gole de vinho e dormiu.

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